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Fernando Lanhas

Fernando Lanhas (1923-2012), uma personalidade invulgar e de uma inquietação permanente, transformou a vontade de entender os mistérios da arte e da vida e o seu forte sentido de abstração em condição, em instrumento potenciador de conhecimento e da ação a exercer sobre o real e o concreto. Arquiteto de formação (frequentou a Escola de Belas Artes do Porto entre 1941 e 1947, tendo obtido o Diploma com um projeto para um Museu, em 1962), deixou uma extensa obra que reflete a multiplicidade de domínios e de interesses em que desde sempre se moveu, particularmente reconhecida e premiada na área da pintura e do desenho. Numa incessante procura de compreensão do mundo e das forças que regem o Universo, da micro à macro escala, entre a Ciência e a Arte, percorreu, para além da arquitetura e das artes plásticas, áreas disciplinares tão díspares quanto a arqueologia, a astronomia, a museologia, a etnologia ou a botânica. A poesia e o registo dos sonhos, também presentes nesta constelação, representaram, por sua vez, vias de evasão para uma dimensão onírica moldada ao sabor da sua imaginação. Foi também um colecionador inveterado, desmultiplicando a sua atenção por objetos tão diversos quanto fósseis, seixos, areias de diversas partes do mundo, rochas, brinquedos ou rótulos. Ao longo de aproximadamente cinco décadas (40-90), nunca deixou, porém, de exercer a atividade disciplinar de formação. A sua obra arquitetónica, que se inicia ainda em finais da década de 40, com Fernando Távora, sintetiza de forma singular os valores da sua época, ainda que aculturados e ajustados aos lugares onde se inscreve e às circunstâncias que a ditam. É uma arquitetura moderna e portuense, em busca de um justo equilíbrio entre a vida corrente, convencional, e as possibilidades de renovação ditadas pelo tempo em que decorre. No seu trajeto destaca-se a participação na ODAM e um conjunto significativo de moradias, entre as quais a que projeta para si próprio, blocos residenciais e edifícios públicos que acompanham e ajudam a dar forma à expansão da cidade do Porto, em particular entre os anos 60 e 70 do século XX, bem como o estudo de e para museus – sinal visível da crescente importância desta esfera de interesse pessoal, bem expresso nas décadas de 70 e 80.