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O núcleo da Coleção de Serralves é a arte contemporânea produzida desde os anos 1960 até à atualidade. Arte produzida antes de 1960 pode também ser considerada em função da sua relevância para a Coleção e os artistas nela representados. “Circa 1968”, a exposição inaugural do Museu de Arte Contemporânea de Serralves em 1999, deu particular destaque às décadas seminais de 1960 e 1970, período histórico de mudanças políticas, sociais e culturais a nível planetário que assistiu à emergência de novos paradigmas do fazer artístico e ao nascimento da era pós-moderna.
Cumprindo o seu programa de pesquisa e desenvolvimento permanentes, a Coleção de Serralves pretende distinguir-se por uma aturada atenção à criação do século XXI, em particular à relação das artes visuais com a performance, a arquitetura e a contemporaneidade no âmbito de um presente pós-colonial e globalizado. Embora repercutindo a arte e as ideias do nosso passado recente, a Coleção tem como objetivo refletir sobre o modo como a arte de hoje também antecipa o seu futuro.

© Fernando Guerra FG+SG, 2021
© Fernando Guerra FG+SG, 2021
© Fernando Guerra FG+SG, 2021
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© Wikiart
Helena Almeida

Helena Almeida ( Lisboa, 1934 – Sintra, 2018) terminou o curso de Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa em 1955 e expôs regularmente desde finais da década de 1960. A sua primeira exposição individual aconteceu em 1967, na Galeria Buchholz, em Lisboa.

Ao longo de toda a sua carreira, Helena Almeida questionou os meios artísticos tradicionais, em particular a pintura, disciplina a partir da qual explorou outras disciplinas, como o desenho, a performance, o vídeo e a fotografia. Nos seus trabalhos iniciais a artista reflete sobre a materialidade e os limites do espaço pictórico, trabalhando a tela de forma não convencional, como, por exemplo, pintando o seu verso ou acrescentando-lhe objetos do quotidiano. Na sequência destas obras iniciais, a artista encontrou na fotografia o meio ideal para explorar a tensão existente entre a sua obra e o seu corpo, tema sempre presente no seu pensamento artístico, para o que recorreu à autorrepresentação por que se tornou conhecida nacional e internacionalmente.

Helena Almeida representou Portugal nas Bienais de São Paulo (1979), Veneza (1982 e 2004) e Sidney (2004) e teve importantes exposições individuais em Portugal e no estrangeiro.

 

Alberto Carneiro

Alberto Carneiro (Mamede do Coronado, Trofa, 1937 – Porto,2017) estudou, entre 1947 e 1958, as tecnologias da madeira, da pedra e do marfim nas oficinas de arte religiosa da sua terra, experiência inicial que marcou o seu trabalho artístico subsequente. Entre 1961 e 1967 estudou escultura na Escola de Belas-Artes do Porto e, de 1968 a 1970, frequentou a St Martin’s School of Art, em Londres, onde contactou diretamente com as correntes artísticas emergentes, nomeadamente com a arte conceptual e com a land art, que tiveram grande influência no seu trabalho.

Alberto Carneiro é considerado um pioneiro da arte conceptual em Portugal e ao longo de toda a sua carreira desenvolveu uma singular relação entre arte e natureza. O recurso às matérias naturais em bruto, o uso da fotografia como mediador da relação do sujeito com a natureza e a abordagem antropológica e estética à paisagem natural são alguns dos meios através dos quais Carneiro contribuiu para a renovação da escultura portuguesa ocorrida a partir da segunda metade dos anos 1960.

A sua obra foi exibida em inúmeras exposições individuais e coletivas em Portugal e em outros países europeus, tendo representado Portugal nas Bienais de Paris (1969), Veneza (1976) e São Paulo (1977). No Parque de Serralves está instalada de forma permanente a obra Ser Árvore e Arte, 2000–02, para aí especificamente concebida pelo artista.

 

Leonor Antunes

Leonor Antunes (Lisboa, 1972) licenciou-se em Artes Visuais – Escultura, na Faculdade de Belas Artes de Lisboa em 1998 e vive em Berlim desde 2005. Leonor Antunes explora as relações entre escultura, arquitetura, design e artes decorativas. Pesquisadora atenta de alguns dos mais icónicos edifícios do século XX, a artista apropria-se de elementos formais recolhidos no âmbito da sua investigação, dando-lhes novos contextos para questionar o modo como olhamos para a modernidade e sua receção crítica. A medida, a escala, a proporção e o caráter dúctil dos materiais, como o couro, a borracha e vários metais, são elementos fundamentais no trabalho da artista, que cria assim espaços de tensão entre a serialidade e a manufatura.

Leonor Antunes representou Portugal na 58ª Bienal de Veneza, em 2019. A sua obra tem sido amplamente mostrada, tanto nacional como internacionalmente.

António Barros

António Barros (Funchal, 1953) estudou na Universidade de Coimbra e na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Barcelona. Durante as décadas de 1970 e 1980 organizou diversas exposições, encontros e ciclos de performance no Círculo de Belas-Artes de Coimbra.

A obra de António Barros está fortemente ligada à poesia visual e experimental. Em 1980 participou na exposição “Po-Ex”, na então existente Galeria Nacional de Arte Moderna em Lisboa e, em 1984, colaborou na publicação de Poemografias: Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa, que esteve na génese da 1ª Bienal de Poesia Visual, que aconteceu no México, em 1985. Ao tratamento plástico da linguagem, Barros alia a exploração poética e metafórica dos objetos, criando poemas-objeto com forte sentido crítico, ironia e irreverência. António Barros foi um dos artistas representados na exposição “PO-EX”, organizada e apresentada no Museu de Serralves em 1999.

René Bertholo

René Bertholo (Alhandra, 1935 – Vila Nova de Cacela, 2005) frequentou a Escola de Belas-Artes de Lisboa entre 1951 e 1957. Desde cedo, ainda estudante na ESBAL, foi um crítico ativo do ensino artístico em Portugal marcado pelo conservadorismo e ausência de liberdade. Em 1957, deixou Portugal em direção a Munique e um ano depois  rumou a Paris, onde iniciou  a publicação da revista KWY com Lourdes Castro, Costa Pinheiro e Gonçalo Duarte que haviam seguido idêntico percurso e a que se juntaram mais tarde João Vieira, José Escada, Jan Voss e Christo. Bertholo começou por pintar telas com forte pendor onírico e inspiração pop, a que se seguiram uma série de objetos motorizados, de grande simplicidade formal, representando arquétipos de paisagens numa alusão às imagens próprias da publicidade turística. Em meados dos anos 1970 regressou à pintura. 

René Bertholo integrou a representação portuguesa às Bienais de São Paulo (1959) e de Paris (1962). Até final da década de 1970, altura em que voltou para Portugal, participou em várias exposições em países europeus.  Em 2000, o Museu de Serralves apresentou uma exposição antológica da sua obra. 

Carlos Bunga

Carlos Bunga (Porto, 1976) estudou na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha e atualmente vive em Barcelona. Bunga trabalha na interseção de áreas como a pintura, a escultura, a fotografia, a performance ou o vídeo e desenvolve frequentemente projetos site-specific efémeros, em que utiliza materiais pobres, como cartão e fita adesiva para embalagens. Em contraste com a simplicidade dos materiais, o seu trabalho assenta numa consistente e sensível abordagem poética e conceptual de temas como a memória, o relacionamento com a arquitetura, a fragilidade da vida urbana, a demografia, a emigração e as questões sociais.

 

Carlos Bunga tem desenvolvido um significativo percurso nacional e internacional, expondo em instituições consagradas, tanto na Europa como nos Estados Unidos, Canadá e América Latina.

Cabrita

Pedro Cabrita Reis (Lisboa, 1956) frequentou o curso de pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa e teve as suas primeiras exposições individuais na Galeria Diferença e na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em 1981.

Numa extensa e poética reflexão sobre imagens e memória, Pedro Cabrita Reis tem utilizado, desde a década de 1980, uma multiplicidade de meios como o desenho, a pintura, a escultura, fotografia e a instalação, sendo este último particularmente adequado à concretização da atenção que tem dedicado às questões da ocupação do espaço. A pintura, no entanto, nunca deixou de estar presente no seu trabalho, materializada por via de técnicas mais ou menos convencionais. A sua abordagem à obra de arte é um meio para o desenvolvimento de conceitos especulativos, antropológicos, históricos e filosóficos, que frequentemente resultam em criações de cariz metafórico. Cabrita recorre a uma gama diversificada de técnicas e de materiais simples, como por exemplo madeira, vidro, gesso, pedra, acrílico, tecido, bem como a objetos descartados e do quotidiano.

Cabrita tem uma assinalável carreira internacional e o seu trabalho tem sido amplamente apresentado em Portugal e em todo o mundo. Participou em numerosas e importantes exposições internacionais, designadamente na “documenta” 9 de Kassel (1997), na 24.ª Bienal de São Paulo (1998) e na Bienal de Veneza de 2003.

Lourdes Castro

Lourdes Castro (Funchal, 1930 – 2022) estudou pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa entre 1950 e 1956. Em 1957, depois de uma passagem por Munique, instala-se em Paris com René Bertholo, com quem funda a revista KWY (1958–63) de que fizeram parte Christo, Jan Voss, José Escada, João Vieira, Costa Pinheiro e Gonçalo Duarte.

Após um curto período, nos primeiros anos parisienses, ainda dedicado à pintura abstrata, Lourdes Castro começa a produzir as primeiras colagens ou assemblages com objetos que encontrava, seguindo-se a descoberta daquele que viria a ser o tema fulcral da sua carreira – a sombra. Na sua incessante pesquisa sobre a sombra, Castro experimenta uma imensa variedade de materiais, suportes e técnicas – serigrafia, acrílico, pintura, bordado – começando por representar as pessoas que a rodeavam e, mais tarde, objetos, plantas e flores.

Em 2000 Lourdes Castro participou na Bienal de São Paulo e, ao longo da sua carreira, expôs em numerosas instituições nacionais e internacionais.

Última atualização: 17 de Maio, 2022